CANTAR
Canto sem censura, pois quando canto o motivo
não é somente estar alegre ou triste.
Canto por existir, por ter preso dentro
do corpo que acolhe a minha alma, os gritos dos castiços, os gemidos dos jovens
que partiram da favela com um tiro nas suas vidas, as mães e os pais que
abandonam os seus filhos por conta das escolhas erradas, aos filhos que
desprezam os seus pais e avôs por terem sido desamados
na infância, ao encarcerado no cumprimento da lei, aos que estão no leito da
dor e da morte aos que estão presos na memória acorrentando o presente.
Canto para não ficar doente!
Canto para libertar os santos e demônios que habitam na minha memória,
alimentados com o poder ditador ou com os entraves do viver.
Canto a música alegre,o lamento, a popular, a clássica, a de terreiro
batido, em português, em alemão, em ioruba, em faveles... Canto sim, sem me
preocupar com a beleza da voz e sim com a afinação de ideais com os meus
ancestrais.
Por vezes o silencio do meu canto nada mais é do que o grito do meu
coração. Aí canto para a minha própria solidão.
No silêncio não somente canto, componho, uso a ferramenta como a arma
que registra o pouco caso com os seres desprezados da nossa nação.
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